sábado, 26 de novembro de 2011

nowhere fast

Em busca do âmago da questão

São Paulo, 24 pra 25 de Novembro do ano de 2011.

Eu tenho depressão. Ou síndrome do pânico, psicose maníaco-depressiva, distúrbio borderline, síndrome bipolar. Uma dessas aí. Ou várias. Mas pode ser que seja simplesmente preguiça, egoísmo, medo, apatia... É mais fácil assumir que todos esses são sintomas de uma doença do que da pura e simples falta de caráter ou fraqueza de espírito. Confesso que no alto dos meus quase quarentanos, 23 dos quais estive na mira de diagnósticos de doenças afetivo-emocionais-comportamentais, eu nunca soube dizer se o que tenho é uma doença, ou um monte de defeito combinado em uma pessoa só: a minha, ou ainda a reação natural de qualquer pessoa sensível e discernida diante das mazelas do mundo. Só sei que estou aqui ainda: “oh yeah, i’m still alive”. E nada mudou. Quero dizer, as crises persistem, falta de rumo, falta de sonhos, de planos, de motivos e gostos...às vezes acho que não tenho cheiro, nem cor, nem sabor. Indiferente...


"And when I'm lying in my bed

I think about life and I think about death

And neither one particularly appeals to me."

(Nowhere Fast - The Smiths)


A pior coisa é ter que responder “Qual é o seu maior sonho?”. I have no fucking idea. Sempre digo que é viajar pelo mundo (a começar pela Europa). Até gostaria muito de poder fazer isso, mas dizer que é um sonho... parece-me mais uma opção de lazer, distração... um sonho não tinha que ser algo como ganhar um milhão de dólares, casar com um príncipe encantado, ser presidente do mundo, etc? Meu sonho era poder viver sem culpa... sem a culpa de não ter dado conta de determinado serviço ou projeto porque tive um episódio de depressão (ou de preguiça. Lembre-se: ainda não temos certeza da existência de uma doença). Achar um cantinho. Settle down. Ter um monte de filhos e bichos e depois não ter o que fazer com eles se – e quando – eu finalmente conseguir ir pra Europa.

Na realidade sinto que não tenho sonho. Nem meta. E o fato de eu deixar a vida me levar me faz sentir culpa. Sinto-me culpada por não ter sonhos. E por sentir culpa e...

Eu quero uma casa no campo? Não sei, porque gosto pra caramba de uma vida confortável. Tá, o que mais me incomoda são os serviços de casa. Até topo uma casa no campo, mas tem que ter máquina de lavar e secar, dishwasher, fogão elétrico, chuveiro quente, microondas, geladeira, aspirador de pó, repelentes, água encanada, acesso à internet, tv à cabo (sobre esses dois últimos ainda não tenho certeza, até porque tanta conectividade vai me fazer ter vontade de sair correndo e deixar a casa no campo milhas para trás).

Mas a razão de eu estar aqui escrevendo é porque eu tô simplesmente pirando o cabeção pela quinquilhonésima vez. It’s the circle of (my) life. Fico alegrinha, tenho desejos, vontades e projetos, tento realizá-los e vou extremamente bem no início, passa um tempinho e começo a cancelar compromissos, começo a não me empenhar com tanto afinco, a acordar mais tarde, dormir à tarde, dormir mais cedo... dormir, dormir, dormir. Começo a ter taquicardia quando os compromissos se aproximam. Não quero atender o telefone, nem falar com pessoas queridas que vão me cobrar com um ”saia dessa!”. Como sair dessa? Se fosse simples assim não era depressão (ou preguiça crônica). Aí o circulo se aproxima do fim, quando começo a perder dinheiro, contatos, projetos, o que, afinal, era o que eu queria (no fim, sempre consigo o que quero, mesmo que seja não conseguir nada – talvez isso seja um sinal de uma grande competência!). Aí tudo acaba. Projetos acabam. Relacionamentos acabam. Endereços mudam. Clientes somem. “Amigos” desaparecem ou se reciclam. E só os mais fortes (ou mais teimosos) sobrevivem a mim e, principalmente, comigo. Aí depois começa o círculo todo de novo. Vamos lá travez...

Estou cansada disso tudo. Até porque não dá dinheiro. E o dinheiro afasta a culpa. Aquela culpa que mencionei antes, lembra? Se tivesse dinheiro poderia mandar tudo às favas quando quisesse que não perderia nada ou quase nada. E o que perdesse, eu poderia recuperar depois. Até porque, o que realmente importa (a não ser o tempo) eu nunca perdi, por mais mergulhada no final do círculo que estivesse. Então voltemos à questão do dinheiro. Preciso de terapia, mas não tenho dinheiro nem pra fazer terapia. Por isso criei você, querido Virtual Shrink. Então começo a contar aqui minha vida, completamente fora de ordem, mas isso não importa. O grande objetivo é determinar se o que tenho é preguiça ( e outros pecados capitais) ou uma doença tratável com remédios e terapias de choque, etc, etc. Se no final das contas eu tiver certeza que é o primeiro caso, recolho-me à minha insignificância e... sei lá o que vou fazer... mas se chegarmos à conclusão de que eu tenho jeito se tomar prozac ou lythium ou coisa que o valha, aí vou procurar os órgãos competentes, feliz da vida com uma resposta para a vida, o universo e tudo mais.

Algo me diz que eu nunca vou saber. Então vamos aos objetivos secundários. Seria bom que eu também me encontrasse. Aquela história do “quem sou eu”, “o que gosto de fazer”, “em que sou boa”, “qual é o meu (fucking) dream”. Pardon my French.

Sabe aquela história do “o que você vai ser quando crescer?”. Eu sei lá. E olha que já cresci bastante.

Adoro conversar com gente simpática e inteligente. Não necessariamente culta porque minha cultura tem limites. Pode ser culta, mas não afetada, porque gosto de aprender, não de ser esnobada. E inteligente pra mim é quem tem uma visão profunda das coisas, quem enxerga além de estereótipos e vícios de opinião. Quem consegue fazer associações inesperadas e imprevisíveis. Quem consegue fazer rir e chorar através da sensibilidade e percepção. Enfim, isso é um prazer para mim. Conhecer e conversar com gente assim. Isso é uma coisa que gosto. Essa resposta vale alguma coisa? [falando assim, tenho saudades de certas pessoas. Elas sabem quem elas são. Não preciso aqui mencioná-las, mas ainda bem que existem!]

Gosto também de bicho. Gato, cachorro e papagaio. Aliás esses são exatamente os meus preferidos. Não posso dizer que gosto de golfinhos porque nunca conheci um, embora eles pareçam muito interessantes. Às vezes gosto mais de certos bichos do que certas gentes. Sim, porque a razão só tem valor quando ela não é bitolada e míope. Senão prefiro o instinto inteligente dos bichos. O olhar comunicativo, o respeito, a gratidão. O prazer em simplesmente ser e estar (desafio: traduzir essa frase pro inglês! Ahaha). Aliás, bicho não sente culpa por não ter conseguido fazer isso ou aquilo. Essa culpa que me corrói. De não conseguir dinheiro, ou status, ou de não cumprir com algum protocolo social, ou não me encaixar em algum padrão. Bicho tem fome e sede e vontade de ter a barriga coçada ou a cabeça afagada. Enfim, tenho muito amor aos bichos. E inveja. Como a razão é por vezes pesada demais... Essa resposta vale alguma coisa?

(Ah e criança pra mim é bicho. Quanto mais nova, mais bicho. Logo, conclui-se que eu gosto pra caramba de criança.)

Aí tem aquela história de viajar pelo mundo, Europa e talz. Sim. Gostaria. De preferência em ótimas companhias. Aprendendo e conhecendo o mundo. Talvez seja para aprender e conhecer mais sobre mim mesma. Minhas origens, misto de bicho e gente. Ver outros bichos, outras gentes. Tentar achar semelhanças, diferenças e talvez soluções e ideias novas. Comer comida inspirada em pensamentos e culturas diversas, como diria o hippie, abrir minha mente. Escancarar minha mente. Gosto muito disso... dessa história de abrir a mente e enxergar as causas e consequências. Pra que isso me serve? Não sei mas é essa velha razão da minha parte não-bicho que fica me impelindo a fazer isso o tempo todo. O eterno porquê da criança que está prestes a deixar de ser bicho. O grande pecado humano. Querer saber os porquês e O Porquê. É por isso que eu tô aqui nessa enrascada. Ou talvez seja por excesso de tempo livre. Sei não. Depois tem mais. Beijo tchau.